sexta-feira, 7 de outubro de 2011



O Hino Nacional


A subchefia para assuntos jurídicos do Planalto disponibiliza, em caráter oficial, o Hino Nacional da República Federativa do Brasil. No âmbito linguístico e social, o nosso hino, que é símbolo de nossa república, esbanja riqueza lexical, fato que aqui abordado será. Porém, o povo brasileiro tradicionalmente é acostumado a repetir e a reproduzir muitas coisas, sem pensar.

Somos detentores de uma Língua riquíssima, inteligentíssima e lindíssima, e o nosso hino é reflexo disso. Ele é cantado por jogadores de futebol na maioria dos eventos esportivos, era bastante ouvido antes das aulas de determinadas escolas, nas entregas de medalha, já foi até remixado covardemente em ritmo de funk. Todavia, antes de entrar no âmbito da estrutura do nosso belo símbolo, há de se esclarecer uma bela figura de linguagem que aparece em diversos trechos do hino, o hipérbato.

Hipérbato é a Figura de Construção em que há uma mudança na ordem dos termos da oração. Não me refiro a uma simples inversão de sujeito e predicado, tal figura é uma transposição mais forte dos termos da construção frásica. Por exemplo: “Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco.” Percebe-se que há a inversão do adjunto adnominal “do tamarindo”, referente ao núcleo “flor”, é colocado no início da frase, claramente com efeitos poéticos, própria da linguagem conotativa. (A flor do tamarindo à ordem direta)

Voltando ao hino nacional, embora o Ronaldinho Gaúcho não perceba, sempre que finge que canta, há o hipérbato já em sua primeira estrofe.


          Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
           De um povo heroico o brado retumbante,
        E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
       Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Em uma aula que ministrei certa vez, houve o  primeiro questionamento: “quem é o sujeito de ouviram?” Indeterminado! Alguns responderam. “As margens plácidas”, outros responderam. Se houvesse acento grave em “as margens plácidas”, a impossibilidade de que tal termo fosse sujeito seria nítida. Como neste termo há o artigo definido as (adj. adnominal) do núcleo margens, nota-se que, conotativamente, o autor quis dizer:


As margens plácidas do (Rio) Ipiranga ouviram.

Outra figura linguagem surge nesse momento: a personificação (ou prosopopeia). Como se as margens de um rio tivessem o poder de ouvir algo, característica própria de um ser animado. Surge, então, a segunda pergunta: Ouviram o quê? Quem é o complemento, o objeto do verbo ouvir? Sabendo-se que brado significa grito e que retumbante é algo forte, que provoca eco, infere-se que só se pode ouvir um grito forte, proferido por um povo heróico. Sendo assim:

As margens plácidas do (Rio) Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico.

Esse processo é evidenciado em outros versos do nosso hino. Mesmo que não sejamos acostumados a valorizar nossa Língua, o pontapé inicial foi dado. Ouça o hino, reflita sobre ele, faça o mesmo exercício, perceba sua riqueza de linguagem, analise o que está ouvido, suas metáforas. Dando uma atenção maior ao nosso idioma, a imagem do Cruzeiro resplandece em nossas mentes. Não fique sempre deitado eternamente em berço esplêndido. Levante-se, leia, estude e quem sabe, assim, realmente perceberemos que um filho desta pátria não foge à luta.



Ousem pensar,
Prof. Fabrício Dutra

2 comentários:

Patrícia Aidar disse...

Tô vendo que vou aprender bastante aqui!
Abs.

Nath Loureiro disse...

arrebentoooooou, Fabriz!! :)