segunda-feira, 16 de março de 2009


Como resolvemos nossas tragédias?


“Na madrugada do dia 29 de agosto de 1993, a favela de Vigário Geral no município do Rio de Janeiro foi invadida por um grupo de aproximadamente cinqüenta homens encapuzados e fortemente armados, que arrombaram casas e assassinaram vinte e um moradores – jovens, adultos e crianças - atingindo famílias inteiras.”

“- Até onde vai a impunidade?”

Quando uma nação sensível e humana como o Brasil, depara-se com esse tipo de pancada e questionamento, todos os cidadãos se emocionam (durante uma semana), comentam indignados, choram, e, como se juízes fossem, aplicam, impiedosamente, sentença devida aos acusados. Citei como exemplo o caso da chacina de Vigário Geral que chocou a sociedade brasileira no início da década de 90. Policiais civis e militares estavam envolvidos no caso, mais precisamente, foram trinta e três acusados, no processo intitulado Vigário Geral I.

Apesar de toda discussão e análise sobre o tema por parte sociedade (durante a semana da tragédia) e do fato de aquela ter batido o martelo no seu tribunal de sofá, com a tal capacidade judiciária pífia que a sociedade brasileira possui, apenas dois dos acusados foram condenados pela justiça competente. Alguém aí se lembrou de se indignar com isso nos últimos anos?

Diante de uma das maiores vergonhas da sociedade brasileira, em que a dignidade da pessoa humana e o direito à vida foram completamente obliterados por representantes de uma suposta “polícia” protetora, restou o clima de impunidade. Porém, além da impunidade por parte da lei (é o termo que usa o povo durante a semana em que as barbáries são temas das conversas), o esquecimento é o fator mais triste e sombrio, pois não é a justiça que esquece rapidamente os casos que chocam a sociedade, é a própria sociedade que simplesmente apaga de suas memórias suas desgraças.

A tragédia do ônibus 174 (que fez de Sandro Rosa do Nascimento um astro imortal do cinema nacional) foi considerada por sociólogos uma conseqüência, uma extensão da chacina da Candelária, que obteve grande repercussão nacional e internacional, embora quase nada tenha mudado para as centenas de crianças, adolescentes e jovens que vivem nas ruas do Rio de Janeiro. Essa chacina resultou em raras condenações aos policias envolvidos, mas quem se lembra disso? A sociedade continua a transpassar pela Av. Presidente Vargas sem olhar para os lados e já esqueceu a indignação que sentiu durante a semana em que a barbárie foi tema das conversas.

Ainda sobre o famoso ônibus 174 (do Astro Sandro), em que uma refém foi morta com um tiro na cabeça partido da arma do policial, notamos e nos indignamos com o despreparo da Polícia e um erro de concepção da instituição na gestão deste tipo de crise, além do erro de conduta consagrado pelos tribunais de calçada do povão (na semana em que todos ainda tinham a tragédia em sua memória).

Mesmo com a indignação dos meios de comunicação e da sociedade com o despreparo da Polícia no caso 174, anos mais tarde, também tivemos extensões dessa tragédia, alguém ainda se lembra do caso Eloá (igualmente fruto da equivocada concepção de preservar a vida do tomador de reféns), ou do caso João Roberto? Em que as mesmas problemáticas retornaram sonoramente à cena: o despreparo da polícia em lidar com algumas crises e a forma confortável e cômoda que a sociedade encontra para lidar com essas tragédias O ESQUECIMENTO, exceto na semana em que a tragédia ainda é notícia...

Na próxima semana o povo já pode voltar suas atenções valiosas ao Big Brother sem dor na consciência...

Ouse pensar!!
Saudações Alvinegras,

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Fabrício Dutra.