terça-feira, 15 de maio de 2007

O Biotipo do Suspeito


Preconceito, substantivo masculino, 1. Opinião ou idéia preconcebida sobre algo ou alguém, sem conhecimento ou reflexão.
Com uma só definição advinda de um respeitado dicionário da língua portuguesa começo meu texto. A generalização foi feita para que agora o particular venha ao caso. Não será aqui discutido todo o tipo de discriminação, será debatido um peculiar: O BIOTIPO DE UM SUSPEITO.
"A viatura foi chegando devagar e de repente resolveu me parar..." Esse trecho da canção de Marcello Yuka é assaz conveniente para que seja incentivada a reflexão sobre a formação da imagem de um suspeito no imaginário social.
Os indicadores sócio-étnicos fizeram com que o cidadão fosse abordado pela viatura? Sim! Há um modelo de retrato falado do suspeito pré-formado em nossas mentes? Sim!
A questão da violência no Brasil além de costumeira é complexa, mas faço aqui um último questionamento antes de formalizarmos o que é um suspeito para uma sociedade: Quando a polícia chega à favela, enxerga diante dela um cidadão???
É fato que a polícia não se comporta da mesma forma em um bairro nobre do Rio e em uma favela. Portanto, o que faz a polícia determinar (julgar) que um cidadão é suspeito antes de ter conhecimento? O que faz com que NÓS tenhamos esse preconceito? Afinal, essa não é uma prática restrita à força policial!!! Todos nos sentimos inseguros nas ruas de nossa cidade e vez ou outra desconfiamos de pessoas sem termos a mínima idéia sobre sua procedência.
Um homem negro de terno pomposo e aparência elegante e um jovem branco, mal vestido, sujo, com cabelo colorido de loiro e olhar carrancudo entram no mesmo ônibus que você. De quem você sente medo? Creio que sua resposta elimine a RAÇA como pré-requisito para formação de um suspeito. Talvez a atitude dos policiais de abordar, usar de violência, cheirar a mão, entre outros abusos, esteja associada à relação de poder, visto que até um policial negro pode ter tal comportamento. O que fazemos os civis? Sentimos medo, insegurança, desviamos e só!
Alguns se arrependem pelo sentimento de medo, talvez tocados pela essência dos direitos humanos. Todavia, as diferenças, ou seja, os contrastes, fazem com que haja perda ou denegação de uma identidade coletiva, fazendo que o "outro" não seja incluído ao mesmo grupo social do "eu".
Pois, a partir embate entre o "eu" e o "outro" há o preconceito, uma formação de um biotipo do suspeito, que não mais se restringe ao negro pobre. As características de um provável cidadão ilícito vão além da raça, também são considerados "atributos" como: traje, comportamento, linguagem, condição social, moradia, emprego, hábitos... e cresce cada dia mais o carregamento de prerrogativas sociais que fazem com que aumente a insegurança do nosso povo.
Cabe ao considerado "suspeito" se adequar a um padrão estabelecido pela sociedade para que não seja mais prejulgado nos "tribunais de rua" do nosso país???? Ou ao cabe à sociedade (inclusive a polícia) ser tocada pelos direitos humanos e respeitar as diferenças????
Ouse pensar!!!
Saudações Alvinegras,
Fabricio Dutra

Opa!!!! Não se esqueçam dos suspeitos que não se enquadram nesse biotipo... alguns exemplos você pode encontrar em Brasília...

sábado, 5 de maio de 2007

Rio 2007


"Atletas e população temem a violência no Pan 2007!".

Essa manchete já se tornou clichê quando o assunto é o evento do ano: Os Jogos Panamericanos Rio 2007!!!

Com sua razão, a população carioca carrega consigo além do samba, suor e sangue-bom, uma certa pitada de pessimismo quando o tema é um acontecimento de proporções mundiais realizado em nossa cidade, no caso o Pan.

Antes de tentar entender o motivo para tal pessimismo, interessante seria o levantamento de ressalvas em relação às consequências dos jogos para nossa cidade. Além das obras em infraestrutura e urbanização, programas de inclusão social fazem parte da cartilha do Governo Federal para os jogos. Jovens carentes estão sendo profissionalizados para trabalhar no Pan, tendo aulas de ética, cidadania, geografia carioca e especializações intensivas em língua estrangeira. Revelando, desse modo, algumas positivas consequências pós-pan.

Desde a Grécia antiga, é estudada a importância do esporte no processo educacional, é de Platão o conceito de equilíbrio entre corpo e espírito ou mente. "Na música a simplicidade torna a alma sábia; na ginástica dá saúde ao corpo" Sócrates. Todavia, infelizmente, no Brasil o esporte acabou se tornando um caminho (para muitos o único) para fugir do tráfico e da violência urbana. Portanto, é nítido o entusiasmo de um jovem ao observar um atleta de sua mesma origem humilde conquistando uma medalha nos jogos, cantando o hino nacional, orgulhando a nação, fato que vale de incentivo para que as crianças não se afastem do processo educacional, das escolas e vilas olímpicas e desvie-se, sim, do mundo do crime.

Retomando o tema "pessimismo", é conveniente pronunciar que a população no Brasil, geralmente, mentaliza que uma situação ruim só vá inverter mediante tragédias ou fatalidades que choquem. É comum ouvir pelas esquinas do Rio os seguintes comentários: "Não vai dar certo esse Pan!!", "As obras não vão terminar a tempo!!", "A violência vai tomar conta de tudo", enfim, no fundo nosso povo pensa que com infortúnios, se conseguirá a serenidade.

Será que é dessa forma que realmente funciona? Com que olhos devemos olhar para o Pan? Como um evento que pode trazer bons resultados no legado social do Brasil, ou uma vitrine do escândalo da violência no Rio de Janeiro?

Ouse pensar!


Saudações Alvinegras,
Fabricio Dutra.