segunda-feira, 10 de outubro de 2011




Erro fatal! Falta de memória!

Havia, num passado recôndito, uma situação usual pela qual todos nós passávamos: o branco. A falta de memória. Aquele momento (horrível) em que queríamos lembrar algo específico, porém, nem São Longuinho (*) nos ajudava. Lembro-me, com entusiasmo e aflição, de muitas conversas na infância, em que era necessário lembrar alguma informação crucial (por exemplo, o nome de um filme) para poder ser compreendido em um diálogo, mas o sucesso não era obtido. Até o caminhar de uma formiga nos desconcentrava nessa frustrada tentativa. 

Por vezes, a aventura durava dias até que realmente conseguíamos recordar (depois de muitas técnicas e esforços). Opa! Lembrei! Era uma glória, um êxtase, um alívio. Felicidade que não somos mais capazes de sentir. O culpado, ou melhor, o responsável pela ausência de tal sensação se chama, genericamente, tecnologia; e, especificamente, Google e Youtube. Estamos livres da supracitada agonia de não conseguirmos, de moldo algum, lembrar certas coisas. A frase “Não me vem à memória” foi sumariamente substituída pela ordem “Bota no Google aí, pô”. Uma reunião entre amigos em casa, hoje em dia, só é interessante e divertida se houver um computador com o famoso site de compartilhamento de vídeos aberto, ou um smartphone na mão.

Sou uma pessoa extremamente impressionável com a tecnologia. Fico boquiaberto com as maravilhas de que são capazes os Iphones e os Androids da vida, na verdade, confesso que até hoje não entendo como uma voz entra em um aparelho celular e sai em outro no Acre, isso mesmo, no Acre! Adoro tudo isso, no entanto, enxergo um problema, um inconveniente nessa tecnologia toda: era realmente horrível não nos lembrarmos por dias de algo, mas, hoje em dia, nós nem tentamos mais. A primeira atitude é jogar no Google, antes até de queimarmos a "mufa", como vulgarmente se diz. 

O computador pensa por nós, e o ato de pensar é que nos diferencia dos gorilas. O computador se lembra das coisas por nós, e a memória racional é o que nos diferencia das antas. Quando eu conversava com meus avós, eles, propositadamente, contavam histórias fantásticas, que despertavam meu pensamento alegórico, faziam com que aflorasse minha criatividade imaginativa. Eu conseguia me incluir nas narrativas contadas pelo meu querido pai, como se em um livro estivesse entrando, sem que ele precisasse botar no Youtube.

Hoje, é necessário VER, ouvir. Por quê? Por que a nova geração tem preguiça até de imaginar, o computador nos mostra como é. Quando se perde a oportunidade de assistir a um programa, não tem mais a menor graça um amigo contar como foi, ele nos envia por email o vídeo no Youtube. Afinal, por que imaginar ou ouvir uma narração, se eu posso ver?

Quanto menos se imagina, quanto menos se pensa; menos criativo se é, menos inovador se consegue ser. O processo de criação, seja ele qual for, necessita de arrojo e astúcia, a criação é um potencial inerente ao ser humano. Criar é formar, dar forma a algo novo e o ato criador abrange o poder de compreensão do homem. Se dissolvemos nossa aptidão de imaginar, destruímos nossa capacidade de compreender e interpretar o mundo à nossa volta. Caso não acredite, jogue no Google a palavra-chave: Criatividade.

(*)São Longino (do latim Longinus), também popularmente referido como Longuinho, é um santo não-canônico da Igreja Católica. Na tradição popular, é invocado para encontrar objetos perdidos. (como a memória, por exemplo)

Ousem pensar
Fabrício Dutra

Um comentário:

Isabela disse...

E alguns colégios colocando tablets na lista de material escolar... no auge do processo criativo do homo sapiens. Rs Até onde isso é positivo?