quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


 Manifesto da Gramática

Certa vez, um ilustríssimo professor de Língua Portuguesa me perguntou:

- Você também é gramatiqueiro?

Respondi, prontamente, que sim. Todavia, essa resposta me fez refletir sobre alguns aspectos da minha vida docente. Por ser graduado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, um filme me veio à cabeça. Imagens que, certamente, passam pela mente de muitos estudantes de Letras: os velhos combates entre Linguística x Gramática. Correção x Opressão. Norma x Normas. Esquerda x Inteligência.
Sem nenhuma saudade, lembrei-me de todo meu período acadêmico. Resolvi cursar Letras devido a uma grande afeição à Gramática e ao estudo das línguas. Durante o curso, houve uma clara pressão em convencer os futuros profissionais de Letras de que a Gramática Normativa era um terrível monstro o qual reprimia, cruel e ditatorialmente, todos os falantes que desviassem – pouco que fosse – ao bom uso da Linguagem.  Pura tolice.
 Não é meu objetivo com o presente artigo desvalorizar a Linguística. Muito pelo contrário. Ela foi uma das disciplinas mais interessantes que cursei na Universidade e é uma ciência fabulosa. A Língua realmente não deve ser apenas considerada como um conjunto de normas que trazem à tona a dualidade certo e errado. Li muito e admiro as descobertas de Ferdinand Saussure, que introduziu a distinção entre língua (langue) como um sistema global de regularidades e fala (parole), que são as expressões reais em si.
O que sempre me incomodou e preocupou foi a postura de muitos Linguistas de repulsa em relação à Gramática.
É sabido que a Língua Portuguesa possui uma gama de variações (tema que nem um livro conseguiria encerrar) de muitas naturezas - variedades socioculturais, variedades regionais, entre outras -. É de igual forma bem claro que o conceito de erro, segundo defendem os linguistas, deve ser tratado com muito cuidado e atenção. Certas construções linguísticas não devem ser consideradas ERRADAS, e sim INADEQUADAS.
O fato é que há varias normas presentes na Língua Portuguesa, cada uma com sua função social, estrutura e regras. Por exemplo, a música. Na língua empregada na música, é necessário que haja sonoridade, eufonia e rima. Isso é a NORMA sobre a qual se rege a música. Por exemplo, a canção da maravilhosa Marisa Monte: beija eu, beija eu, beija eu, me beija. Desvios à língua-padrão, como os percebidos na música citada,  são toleráveis, visto que a norma é outra, as exigências são outras.
A norma pertinente à musica, bem como a norma exigida em situações informais devem ser respeitadas. Por que diabos alguns linguistas consideram a normal culta algo opressivo? Por que a Gramática é tão aborrecedora? Por que certos estudiosos são traumatizados diante dos conceitos de certo e errado? Convivi no meio acadêmico e sempre percebi uma grande influência da esquerda-populista (podre) contribuindo para esse trauma e essa atitude de muitos docentes: o medo das regras e a exaltação do popular.
Meu mestre Evanildo Bechara, genialmente, sempre disse que devemos ser poliglotas em nossa própria língua. A Gramática não é instrumento de opressão; ela não é fim, é meio. O fim, de fato, é a comunicação. A Norma Culta é uma das várias normas existentes do Português e, com certeza, socialmente, a mais importante. Visto que ela é um instrumento de ascensão social, através do qual o falante tem a possibilidade de produzir e ler bons textos, de adequar-se a situações formais (exigidas na grande maioria das ocasiões profissionais na nossa vida) e consequentemente almejar melhores oportunidades.
Ensinar a língua-padrão não é uma forma de expressar preconceito social, como defendem os sociolinguistas, que têm, paradoxalmente, preconceito contra a Gramática. O ensino correto da Normal Culta e da Gramática - aplicada ao texto - é a melhor forma de oferecer oportunidade aos falantes de conhecer uma nova norma, o coloquial eles já dominam e usam fora da escola. O contato com a norma de maior prestígio, sem sombra de dúvidas, oferece uma gama de oportunidades que surgirão na fase adulta.

Ousem pensar, 
Fabrício Dutra

Um comentário:

Blog do Sidoca disse...

Realmente o preconceito é algo inerente ao Homem. O preconceito linguístico em nosso país é ridículo. Haja vista que a fala é a expressão do homem e a língua é a expressão da sociedade. Como poderíamos dominar as variantes sem um padrão?