Manifesto da Gramática
Certa vez, um ilustríssimo professor de Língua Portuguesa me
perguntou:
- Você também é gramatiqueiro?
Respondi,
prontamente, que sim. Todavia, essa resposta me fez refletir sobre alguns
aspectos da minha vida docente. Por ser graduado na Universidade Federal do Rio
de Janeiro, um filme me veio à cabeça. Imagens que, certamente, passam pela mente
de muitos estudantes de Letras: os velhos combates entre Linguística x
Gramática. Correção x Opressão. Norma x Normas. Esquerda x Inteligência.
Sem
nenhuma saudade, lembrei-me de todo meu período acadêmico. Resolvi cursar
Letras devido a uma grande afeição à Gramática e ao estudo das línguas. Durante
o curso, houve uma clara pressão em convencer
os futuros profissionais de Letras de que a Gramática Normativa era um terrível
monstro o qual reprimia, cruel e ditatorialmente, todos os falantes que
desviassem – pouco que fosse – ao bom uso da Linguagem. Pura tolice.
Não é meu objetivo com o presente artigo
desvalorizar a Linguística. Muito pelo contrário. Ela foi uma das disciplinas
mais interessantes que cursei na Universidade e é uma ciência fabulosa. A
Língua realmente não deve ser apenas considerada como um conjunto de normas que
trazem à tona a dualidade certo e errado. Li muito e admiro as descobertas de Ferdinand Saussure, que introduziu
a distinção entre língua (langue) como um sistema global de regularidades e
fala (parole), que são as expressões reais em si.
O que
sempre me incomodou e preocupou foi a postura de muitos Linguistas de repulsa
em relação à Gramática.
É sabido
que a Língua Portuguesa possui uma gama de variações (tema que nem um livro
conseguiria encerrar) de muitas naturezas - variedades socioculturais,
variedades regionais, entre outras -. É de igual forma bem claro que o conceito
de erro, segundo defendem os linguistas, deve ser tratado com muito cuidado e
atenção. Certas construções linguísticas não devem ser consideradas ERRADAS, e
sim INADEQUADAS.
O fato é
que há varias normas presentes na Língua Portuguesa, cada uma com sua função
social, estrutura e regras. Por exemplo, a música. Na língua empregada na
música, é necessário que haja sonoridade, eufonia e rima. Isso é a NORMA sobre a qual se rege a música. Por
exemplo, a canção da maravilhosa Marisa Monte: beija eu, beija eu, beija eu, me beija. Desvios à língua-padrão,
como os percebidos na música citada, são
toleráveis, visto que a norma é outra, as exigências são outras.
A norma pertinente
à musica, bem como a norma exigida em situações informais devem ser respeitadas. Por que diabos alguns linguistas
consideram a normal culta algo opressivo? Por que a Gramática é tão
aborrecedora? Por que certos estudiosos são traumatizados diante dos conceitos
de certo e errado? Convivi no meio acadêmico e sempre percebi uma grande influência
da esquerda-populista (podre) contribuindo para esse trauma e essa atitude de
muitos docentes: o medo das regras e a exaltação do popular.
Meu mestre
Evanildo Bechara, genialmente, sempre disse que devemos ser poliglotas em nossa própria língua. A Gramática não é
instrumento de opressão; ela não é fim, é meio. O fim, de fato, é a comunicação.
A Norma Culta é uma das várias normas existentes do Português e, com certeza,
socialmente, a mais importante. Visto que ela é um instrumento de ascensão social,
através do qual o falante tem a possibilidade de produzir e ler bons textos, de adequar-se a situações formais (exigidas na grande maioria das ocasiões
profissionais na nossa vida) e consequentemente almejar melhores oportunidades.
Ensinar a língua-padrão não é uma forma de expressar
preconceito social, como defendem os sociolinguistas, que têm, paradoxalmente,
preconceito contra a Gramática. O ensino correto da Normal Culta e da Gramática
- aplicada ao texto - é a melhor forma
de oferecer oportunidade aos falantes de conhecer uma nova norma, o coloquial
eles já dominam e usam fora da escola. O contato com a norma de maior prestígio,
sem sombra de dúvidas, oferece uma gama de oportunidades que surgirão na fase
adulta.
Ousem pensar,
Fabrício Dutra
Um comentário:
Realmente o preconceito é algo inerente ao Homem. O preconceito linguístico em nosso país é ridículo. Haja vista que a fala é a expressão do homem e a língua é a expressão da sociedade. Como poderíamos dominar as variantes sem um padrão?
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